Fluxus

Post relativo ao curso de Especialização em História Social da Arte.
Trabalho relativo a conclusão de módulo: Movimentos Artísticos Contemporâneos. Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Professora: Débora Santiago.
Aluna Sheilla: Liz Cecconello.

Análise dos textos: ‘Contra a arte afluente: O corpo é o motor da obra’ de Frederico Morais e ‘O que é Fluxus? O que não é! O porquê.’ De Arthur C. Danto.
Fluxus – Lista de nomes e dos trabalhos do grupo

O Fluxus foi uma silenciosa revolução conceitual ocorrida no final dos anos cinquenta e início dos anos sessenta. Propunha questionar a linha entre as obras de arte e o resto das coisas. Era o novo papel do artista que surgia: Atuar como o agente na proposição de situações ou apropiador de objetos e eventos.

Segundo Morais o aleatório entra no jogo da arte e a obra perde ou ganha significação em função de acontecimentos. O objetivo aqui é alargar as capacidades perceptivas, função primeira da arte. A obra não existe mais, assim como qualquer espécie de julgamento.




O movimento Fluxus teria sua origem em torno das músicas experimentais realizadas por John Cage na New School for Social Research. O objetivo de Cage criando composições não-narrativas e aleatórias através da incorporação de ruídos e interferências do meio, inspirou diversos artistas a proporem um diálogo com o cotidiano em seus trabalhos. Assim, o Fluxus teria sido criado em 1961, em Wiesbaden, na Alemanha, durante o Festival Internacional de Música, tendo a liderança de George Maciunas. Artistas de várias partes do mundo se integraram ao movimento, como os alemães Joseph Beuys e Wolf Vostell, o coreano Nam June Paik, o francês Bem Vautier, e japonesa Yoko Ono, entre outros.

George Maciunas

Segundo Frederico Morais, com o Fluxus, a arte deixou de existir fisicamente. Eco e alguns outros teóricos como Vinca Mazini foram os últimos a defender a noção de obra. Esta hoje separou-se de seus suportes: parede, chão ou teto. Eles tornaram-se obsoletos e não se fazem mais necessários para a produção da mesma. A arte tornou-se uma situação, e o artista apenas o veículo que a propõe. O caminho que a arte seguiu, da fase moderna à atual, pós moderna, foi o de reduzir a arte à vida, na medida que ela gradativamente passou a negar tudo que se relaciona com o conceito da obra.




Arthur Danto, em seu texto “O mundo como armazém: Fluxus e Filosofia” discute esse conceito citando um trecho de William Kennick, que propunha aos seus leitores imaginar um imenso armazém, atulhado de coisas de todos os tipos que se possam imaginar, quadros e estátuas misturam-se a móveis e roupas, jornais e selos. O desafio é entrar nesse armazém e trazer consigo apenas os objetos de arte. As pessoas possuem um denominador comum e satisfatório quanto a definição de arte? Provavelmente.



Ludwig Wittgentein já havia proposto esse conceito quando afirmou que somos capazes de navegar pelo mundo sem as mesmas definições dos filósofos, afirmando inclusive que os filósofos por mais de dois milênios falharam em suas buscas de definições quanto a conceitos como justiça, conhecimento e beleza. Assim todos teríamos uma certa noção do que são obras de arte, não existe uma definição que nos torne mais sábios nesse sentido.

Ludwig Wittgenstein

Para Danto, o que Wittgenstein e Kennick não consideraram, assim como qualquer outra pessoa dessa época é que objetos como jogos ou brinquedos baratos, sem qualquer reinvindicação de beleza ou técnica, estavam a ponto de entrar no mundo da arte mantendo sua identidade como brinquedos. Esse duplo ontológico era a força motriz de um movimento obscuro demais para ser registrado a consciência daquela época.

A nova ideia conceitual que surgia era a de que nada externo pode distinguir uma obra de arte dos objetos e eventos mais comuns. A arte passa a se direcionada a trazer a arte para o mundo terreno, transfigurando através da consciência artística. Para Danto nenhum desses movimentos foi tão fundo quanto o Fluxus. Eles aboliram em definitivo a linha que Kennick supunha ser reconhecida por todos que entrassem no armazém. Xícaras de café não são menos belas que as perfeitas esculturas.
Esse foi o mote conceitual do movimento Fluxus. Antes havia a linha divisora da Arte Erudita como propunha os argumentos de Kenning. O fluxus veio pra revelar que tudo pode ser maravilhoso quando visto pelo prisma da experimentação do real.

George Maciunas


Para Danto, a melhor explicação sobre como a história da arte deu essa volta conceitual sem precendentes, foi porque o Fluxus, e os outros movimentos pertencidos a época, foram reações contra o Expressionismo Abstrato, que se transformou em alvo de escárnio para a geração seguinte. Novamente aqui, a arte movendo a própria arte.
Essa nova arte, antiarte, fruto de um ecletismo exasperado, se afirma enquanto base conceitual em uma palavra: Encantamento. O contínuo encantamento. O deixar fluir. Sobre essa condição fluída das coisas Lygia Clark já afirmava em 1968:

“Não deve mais existir estilo. As coisas não são eternas, mas precárias. Nelas está a realidade. No meu trabalho, se o expectador não se propôe a fazer a experiência, a obra não existe.”Máscara sensorial de Ligia Clark

Os primeiros a proporem uma antiarte foram os dadás. Marchel Duchamp declara em 1915: “a arte acabou, quem faz melhor essa hélice?”. Os contrutivistas em 1923: “A arte está morta”. No Brasil a história recente da arte de vanguarda se anunciou quando Oiticica em busca desenfreada da pureza através da forma pela forma, declara: “A pureza não existe”. E depois dessa luta dolorosa o que ele exatamente encontra é sua pureza. Para Oiticica a arte deixa de ser coisa superposta a vida, a consequencia foi de que tudo assumiu condição de arte. Um estado onde o primitivo desemboca no permanente estado de descoberta.

Hélio Oiticica (1937-1980) veste o Parangolé (1968).

Para Frederico Morais o que restou de toda essa revolução conceitual da arte é uma arte guerrilheira, que não se anuncia nem se deixa cristalizar, não existem categorias, modos ou meios de expressão, estilos, e dentro de algum tempo não haverá nem mesmo autores. É uma contra-história feitas de muitos capítulos com um mesmo nome: a arte acabou. Essa contra-história desagua seu lodo inconclusivo na arte pós-moderna. Mas, segundo ele, a arte ainda respira uma ‘morte-vida'.


Se a arte tornou-se uma situação, e o artista apenas o veículo que a propõe, se ela morreu, ou paradoxalmente foi reduzida a vida, que caminhos pode ela ainda vir a descobrir? Morais sugere que é tarefa de países como o nosso a contestação da arte afluente. Para ele, a miséria e o subdesenvolvimento são nossa principal riqueza, sem fazer tabu sobre novos materiais e instrumentos. O que importa é a ideia, a proposta, situações e processos, e se for necessário usar o próprio corpo como canal visceral de mensagem isso deve ser feito. O corpo, e sobretudo a inteligência.


Bibliografia:

MORAIS, Frederico. Arte Contemporânea Brasileira: Contra a arte afluente: O corpo é o motor da obra. Marca d´Água Livraria e Editora, 2001.

DANTO, Arthur C. O que é Fluxus? O que não é! O porquê. Centro Cultural Banco do Brasil- Brasília/ Rio de Janeiro, 2002.

Comentários

  1. Sheilla querida
    Muito Obrigada por compartilhar conhecimento!!!
    Beijão!
    Quando vcs vem pra ilha?
    Marina

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas